Epístola de Barnabé

“A Epístola de Barnabé”, que não é o alegado “Evangelho de Barnabé”, é uma das obras populares no cristianismo primitivo. É uma das cartas apócrifas, ou seja, aquelas cartas que pertencem à literatura apócrifa ou são atribuídas a outros que não seus autores. É costume que a Epístola de Barnabé seja classificada entre as obras dos pais e dos escritores apostólicos. Às vezes está entre os livros canônicos, enquanto outros os consideram escritos apócrifos. A Epístola de Barnabé não contém o nome de um autor. Clemente de Alexandria (+216) atribuiu-a a São Barnabé, companheiro do Apóstolo Paulo, e a tradição o seguiu nesta atribuição. No entanto, os estudiosos hoje descartam que Barnabé tenha sido o autor, porque a carta foi escrita por volta do ano 115 DC, e Barnabé havia morrido naquela época. Quanto ao local onde a carta foi escrita, alguns acreditam que foi em Alexandria, enquanto outros tendem a acreditar que a sua terra natal foi a Ásia Menor, a Síria ou a Palestina.

A Epístola de Barnabé consiste em vinte e um capítulos e está dividida em duas partes. O escritor começa sua mensagem com uma saudação geral e uma introdução; depois, na primeira seção, ele revisa os ensinamentos contidos na Bíblia Sagrada sobre Deus, Cristo, o novo povo de Deus e seus deveres. Na segunda seção, ele fala sobre os dois caminhos, o caminho da luz e o caminho das trevas. No capítulo final, ele convida os leitores a se submeterem aos mandamentos do Senhor e conclui com uma saudação e uma bênção.

A importância teológica da Epístola de Barnabé reside no facto de ter sido a primeira a dar uma interpretação simbólica e espiritual de todo o Antigo Testamento, e ver nela uma profecia sobre Cristo e a vida cristã. O escritor acredita, na primeira parte de sua carta, que o que Deus decretou em relação aos sacrifícios, à circuncisão e aos alimentos deve ser entendido espiritualmente. Em vez de sacrifícios, Deus pede um coração arrependido e, em vez da circuncisão do corpo, a circuncisão do coração e dos ouvidos. O escritor considera que os judeus compreenderam mal a vontade de Deus, pois entendiam e aplicavam a lei literalmente, e diz: “Moisés falou no sentido espiritual, por isso os judeus aceitaram as suas palavras segundo a concupiscência da carne. Compreendemos o significado correto dos mandamentos. Não há dúvida de que Deus deu a aliança aos judeus, mas eles não eram dignos de aceitá-la por causa dos seus pecados. Portanto, o escritor da carta acredita que a aliança e o livro foram dados somente aos cristãos, e por isso eles conseguiram descobrir o significado espiritual por trás do significado literal, por isso ele declara: “O próprio Senhor nos deu a aliança que somos o povo herdeiro, depois que Ele sofreu por nós.”

Na segunda seção, que é moral, o escritor descreve os dois caminhos, o caminho da luz e o caminho das trevas. Esta seção é caracterizada pelo padrão predominante nos livros sapienciais do Antigo Testamento, ou seja, por frases curtas e aconselhadoras que orientam o bom comportamento e evitam o mal: “Ama como a pupila dos teus olhos a todo aquele que te prega a palavra de Deus . Confesse seus pecados. Não vá orar com a consciência pesada. Este é o caminho da luz. O caminho da escuridão é, caso contrário, distorcido e cheio de maldição.”

Os ensinamentos da mensagem giram em torno da afirmação da transcendência e da divindade de Jesus Cristo. Cristo, “o amado Jesus”, o Filho de Deus que se encarnou e nos redimiu, é o único Mestre: “O Mestre suportou a destruição do seu corpo para nos purificar através do perdão dos pecados, que se realiza pela aspersão do sangue dele. O Mestre suportou o sofrimento pelas nossas almas, embora seja o Mestre do universo a quem Deus disse desde o início do mundo: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Vale ressaltar que o escritor utiliza a frase “Mestre do Universo” quando fala também do Pai, o que indica, a seu ver, a igualdade do Pai e do Filho com a divindade e a eternidade. É perceptível também que o escritor interpreta as palavras do Livro do Gênesis sobre a criação do homem, atribuindo o ato ao Pai e ao Filho, e esta interpretação é a primeira neste sentido.

O autor da carta trata do tema do batismo como nova criação e renovação: “Visto que Ele nos renovou através do perdão dos pecados, Ele nos deu outro selo, para que tenhamos alma de criancinha, como se Ele nos criou de novo.” O batismo realiza em nós uma transformação, por isso nos tornamos templos de Deus: “Descemos à água cheios de pecados e impurezas, mas dela saímos dando frutos, com temor no coração e esperança em Cristo na mente (. ..) Ao aceitar o perdão dos pecados e a nossa esperança em nome do Senhor, tornamo-nos pessoas novas, completamente recriadas”. Desta forma, Deus habita verdadeiramente em nós, dentro de nós”.

A mensagem de Barnabé é caracterizada por uma linguagem simples e comovente. O seu foco é que a vida do cristão está inteiramente enraizada em Cristo e na sua Igreja. Quanto à moralidade, ela está impressa com um caráter social que se preocupa com os outros: “Não vivam isolados, reclusos dentro de si mesmos, como se tivessem sido justificados, mas reúnam-se para buscar juntos o que é de benefício comum”. Contudo, o que caracteriza esta mensagem em particular é o carácter da alegria cristã, que é mais evidente no domingo: “Portanto, celebramos com alegria o oitavo dia em que Jesus ressuscitou e subiu aos céus depois de se revelar”. Não é de admirar que o escritor exorte os cristãos à alegria, pois para ele são “filhos do amor” e “filhos do amor e da paz”, cujas vidas brotam da “fonte transbordante do Senhor” e anseiam por se aproximar de Ele.

Do meu boletim paroquial de 2002

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