Anteriormente falamos sobre a Palavra de Deus, ou seja, o poder incriado de Deus, e também sobre a relação entre a Palavra de Deus e os milagres. Agora temos que mencionar algumas coisas sobre os milagres que Cristo realizou, isto é, estudar o seu valor e caráter teológico.
Algumas pessoas vêem que os milagres são uma exclusão da lei natural. Ou seja, acreditam que quando Deus criou o mundo, Ele colocou leis naturais na Sua criação, e quando os milagres são realizados, essas leis são suspensas. Esta visão é teologicamente incorreta. Primeiro, devemos mencionar que os Padres da Igreja têm duas doutrinas básicas sobre a criação do mundo e a relação de Deus com ele. A primeira é que Deus criou o mundo do nada, e a primeira é que Ele o dirige não por meios criados, mas pelo Seu poder incriado. Isto significa que não existem leis naturais que governem a criação, o que significa que Deus não criou o mundo e o deixou entregue ao seu destino, mas antes Ele o administra pessoalmente com Seu poder incriado, coeso e cuidadoso. Não existem leis naturais na criação, mas existem leis espirituais, que são o poder divino. Se não vemos as coisas desta perspectiva, alienamos Deus do mundo ou atribuímos a necessidade a Deus.
Cristo sempre enfatizou que o Pai Celestial está trabalhando, que Ele alimenta as aves do céu e veste a terra (Mateus 6:26-28) e que Ele se preocupa com tudo. Quando há algumas coisas que se repetem de forma natural, isso não se deve a uma lei natural, mas sim ao mérito do poder divino, ou seja, Deus quer agir sempre da mesma forma. Portanto, os milagres não são uma violação das leis naturais, como se Deus duvidasse de si mesmo, mas antes, embora Ele sempre opere de uma maneira, num momento específico, Ele realiza o milagre de uma maneira diferente. Trata-se da intervenção pessoal de Deus no mundo, como Ele sempre faz, cada vez de uma forma diferente. Contudo, ao falar sobre os milagres de Cristo e daqueles associados a ele, devemos observar dois pontos.
A primeira é que, sendo Cristo plenamente humano e plenamente Deus, e a natureza humana que Ele assumiu da Virgem foi santificada desde o momento da sua primeira concepção, Ele é sempre capaz de realizar milagres, mesmo desde o nascimento. Mas ele não deveria fazer milagres em tenra idade, para que não pensassem que ele não era humano. É por isso que houve gravidez por um período de nove meses, nascimento, amamentação e uma passagem tranquila de tempo, e Ele esperou até a idade apropriada para começar Sua obra entre a humanidade. Ele fez tudo isso para que o segredo da gestão fosse aceito (São João Crisóstomo).
O segundo ponto é que os milagres realizados pelos santos são forças da graça divina operando através deles. Os santos são moradas do Deus Triúno, e Deus opera milagres através deles. Há pessoas que acreditam que o dom de fazer milagres é o mais abençoado, mas não sabem que existem muitos dons maiores que estão escondidos. Por estar oculto, permanece livre de erros (São João da Escada). A renovação, a purificação, a iluminação, a deificação e a contemplação da luz e da divindade incriadas como um dom da graça são superiores à graça de realizar milagres. Aqui acontece a mesma coisa que com Cristo. O milagre ou sinal é a confirmação de que ele é o Salvador da humanidade, e também a graça de realizar milagres nas pessoas é a prova de que elas são moradas do Deus Triúno. Por isso consideramos as relíquias que exalam bondade e fazem milagres como prova da santidade de seu dono. O ruim é que em nossos dias faltam os padrões de santidade e por isso consideramos todo ser humano um santo. O fariseu era um homem bom, mas a graça de Deus não estava nele.